quinta-feira, 28 de abril de 2011

Todas as partes ganham na conciliação entre o trabalho e a família. "It's a win-win".

Para mim a flexibilização deve começar muito antes de sermos mães e pais, muito antes de constituirmos família, tem que ser politica das empresas, responsabilidade da entidade empregadora. Muito antes de pertencermos ao mundo laborar somos humanos, seres imperfeitos, seres com necessidades e quanto mais a nossa vida pessoal estiver controlada, melhor o nosso rendimento e dedicação e a lealdade no trabalho.
Quantas de vocês pensaram duas vezes antes de ter filhos?  Eu pensei inúmeras vezes, nunca era a altura certa, o momento exacto. No meu caso, fui subindo de cargo gradualmente, o momento nunca era oportuno, nunca era adequado. Se pensasse na minha carreira profissional, se pensasse como pensei até decidir que queria construir família o momento certo ainda não tinha acontecido e seria um constante adiar de um sonho, de uma realização pessoal, de um direito em detrimento dos interesses de uma empresa que dificilmente o reconheceria.
Quando pensamos em constituir família, pensamos também que vamos ter que abdicar de uma carreira de sucesso. Ou, se queremos o melhor de dois mundos, temos que ter o dobro do trabalho.
Decidi ser mãe quando percebi que nunca chegaria o momento oportuno dentro da empresa, que seria uma espera inútil. Que para mim a família é mais importante que o trabalho. E acreditem que gosto muito do que faço, e quando faço algo, faço inteira, dedico-me (mesmo que a compensação não seja a que acho que mereço), caso contrario nada faz sentido.
Ao longo da gravidez nunca fiz grandes "exigências" à empresa, mas percebi que infelizmente a empresa em que trabalho é igual a tantas outras e que me olharam de lado, e que não existiu organização suficiente para que eu pudesse usufruir o meu direito de mãe em pleno, sem ter que me preocupar com o trabalho. Senti que no fundo pensaram que eu estaria sempre disponível (não que não estivesse, mas era um momento meu). Na realidade o que queria era sentir que após anos de dedicação à empresa esta se iria esforçar para que aquele momento fosse meu, gozado em plenitude sem preocupações, sem pressões.
Em 10 anos foram as únicas "ferias" a que tive direito na data estipulada, não foram adiadas, mas interrompidas. Gozei 5 meses de maternidade mais um 1 de ferias. Sim porque estou certa que se não as gozasse imediatamente estas seria adiada. Somos mães em media 2 vezes na vida, e portanto, na minha opinião temos que aproveitar essa dádiva e fazer usufruto dos nossos direitos. Sem sentimentos de culpa, sem stress, sem preocupações (esta é a parte difícil).
Na minha opinião falta as empresas perceberem que conciliar a vida pessoal com o trabalho é o segredo para a produtividade.

Sendo hoje em dia o objectivo aumento da taxa de natalidade, são atribuídos incentivos aos pais, no entanto, quando chega a hora de educar, quando ocorrem atrasos na hora de trabalho, ou temos que sair mais cedo, quando temos que faltar a uma reunião, quando não é fácil fazer viagens longas, em prol da família, vemos os patrões torcer o nariz, tentam desresponsabilizar-se e sentimos a pressão e a culpa porque não podemos ocupar dois cargos como desejamos, o cargo de mães e trabalhadoras dedicadas. Até mesmo ao usufruir desses mesmos direitos somos recriminados.
Não aconteceu comigo, mas aconteceu com o meu marido que estava na altura com um contrato a termo certo e foi pressionado a não gozar os seus direitos, e ouviu da boca do seu responsável que se arriscava a não renovar o seu contrato pelo facto de pretender dar apoio à família e estar presente num momento familiar único.
No meu caso sinto a crítica e o remorso. Neste mundo das "gravatas" como costumo chamar, cada um olha por si, e como tal, um bom engenheiro trabalha desde cedo até muito tarde, quase como se fosse condição.
Por mim falo e á séculos que tento mudar, e desde que sou mãe faço um esforço adicional, mas esforço-me também pela minha aceitação neste mundo laboral, sem recriminação, sem dedos a ser apontados, sem deixar de ser profissional, por isso, sem que tentem fazer-me sentir vergonha por entrar e sair na minha hora, como se ficasse em falta. É este tipo de mentalidade que precisa mudar, porque se os nossos próprios colegas pensam assim, que pensarão os nossos patrões?
Tenho um novo chefe que diz que o que está para trás pouco lhe interessa. O que tem interessa é o presente. Como posso esquecer? Quantos fins de semana dediquei à minha empresa e aos seus interesses sem nunca pedir nada em troca? Em 10 anos a empresa cresceu muito e eu contribui com a minha cota parte. Peço apenas reconhecimento, mas neste mundo somos muitos, se sai um vem outro e secalhar a melhor preço. Será que ninguém percebe que se a colaboração da parte dos empregadores existir existe também um aumento da satisfação, logo da produtividade, inter ajuda e cooperação.
De qualquer forma não sou ingrata e consigo ver o que tenho de bom , e também o que tenho de mau.
Factos Positivos na minha situação e acredito em muitas de vocês:
- Tenho a sorte de puder sair mais cedo, chegar mais tarde, tenho alguma flexibilidade a nível de ferias (mau era, sempre adiei as minhas pelos interesses da empresa), e  claro, que se abusar eu própria sou a lesionada e o trabalho acumula acumula...
- Tenho a sorte de ter uns pais saudáveis e com disponibilidade para colaborar na educação dos meus filhos e penso muitas vezes como seria sem eles...
- Tenho a sorte de ter tido alguns superiores hierárquicos humanos;
- Tenho a sorte de ter uma família que me apoia (mesmo sendo os principais lesionados, além de eu própria e o meu filho com as horas que passo na empresa).
Negativo:
 - Sinto que o preço a pagar para ter algo positivo no meu trabalho é alto, exigem demais em troca. Sinto que quase me dão uma esmola e tenho que me esfolar para a merecer, quando tenho que me esforçar depois para ser mãe no tempo que resta. È desgastante. Enfim, não podemos ser perfeitos PERFEITOS, podemos dedicar-nos com afinco ao que nos da prazer na vida, mas é necessário definir a prioridade, o objectivo.
O meu objectivo principal é a família, no entanto, não quero deixar de ser boa profissional e não quero ser marginalizada ou sentir remorsos se entrar as 9 e sair as 18, se adiar uma reunião para ir a uma consulta, se não posso ir a Lisboa porque vou sair de madrugada e chegar tarde e a más hora.

Resumindo:
Todas as partes ganham na conciliação entre o trabalho e a família. "It's a win-win".
Para existir a verdadeira Flexibilidade é necessário mudar as mentalidades, e eu acredito que é possível.

INDIA

3 comentários:

  1. Conhecemo-nos há muitos anos e que pena nem sempre estamos perto. Eu sabia que não resistias a este desafio. Adorei. Beijinho

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  2. Concordo inteiramente. Pena é que quem toma decisões não tenha consciência destes factos e o quanto isso faria com que aumentasse satisfação/produtividade, dos que sofrem estes problemas na pele.

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  3. Adorei.....Tens toda a razão, sinto isso na pele diariamente, como tua irmã. Beijocas mana

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