Ela teve a ideia, e eu aceitei juntar-me.
Não se pode ter tudo, acho que todos sabemos. É comum, ou pelo menos era bastante comum ouvir pela parte das minhas chefias, para quem quisesse ouvir, alto e bom som: "Temos de fazer sacrifícios!". E na verdade, temos. Mas hoje em dia, vale tudo: sacrificar o tempo em família é o que todos consideram mais razoável. Isto, ao abrigo do tempo de qualidade. Eu gostava de acreditar nisto, a sério que sim. Mas ainda me recordo bem de como chegava a minha cabeça a casa ao final de um dia de trabalho. E na altura, tinha só uma filha. Os problemas que trazia para casa, as preocupações, os objectivos, os prémios. E se é certo que o tempo não é tudo, estando muito ocupadas e sendo-nos exigida uma disponibilidade para o emprego exagerada, alguém tem que ficar a perder.
Duvido seriamente que hoje, 4 filhos nascidos, eu conseguisse arranjar esse tempo de qualidade. Porque chegaria tarde e más horas a casa, veria os miúdos duas horas no máximo, e esse tempo seria preenchido com banhos e jantar. Duvido que a correr entre compras, roupa para todos vestirmos, deixá-los nas diferentes escolas, eu chegasse ao sábado cheia de energia para brincar com eles.
Vim para casa há quatro anos sem saber o que me aguardava. Bati a inúmeras portas e dediquei-me a este regime de teletrabalho. Não é fácil gerir este dia-a-dia, mas o que é fácil? Todos os meses é uma incógnita e o futuro que se avizinha não é optimista.
Também há quem defenda que isto não é para toda a gente. Dizem que é preciso ter feitio, seja lá o que isso for. Se é chato estar em casa quase sempre sem ninguém? Às vezes é. Mas mais chato era aturar directores com prazos irrazoáveis, telefones a tocar, gente enervada (e alguma, mal educada), andar no meio do trânsito. Isso, sim, era mesmo chato.
Pois é, todos temos de fazer sacrifícios. No meu caso, sacrifiquei o dinheiro. Esse insubstituível - julgamos todos - provedor de segurança. Tento gerir a agenda com o trabalho que vai aparecendo, com um bebé em casa, e toda a lida que eu tanto gosto de fazer (ou não!).
Rejeitei dinheiro e ganhei disponibilidade mental. Mais do que o tempo, ganhei condições para, todos os dias, viver com maior serenidade. Todas as decisões têm um preço. O meu foi este.
Ana Rute Cavaco
Não se pode ter tudo, acho que todos sabemos. É comum, ou pelo menos era bastante comum ouvir pela parte das minhas chefias, para quem quisesse ouvir, alto e bom som: "Temos de fazer sacrifícios!". E na verdade, temos. Mas hoje em dia, vale tudo: sacrificar o tempo em família é o que todos consideram mais razoável. Isto, ao abrigo do tempo de qualidade. Eu gostava de acreditar nisto, a sério que sim. Mas ainda me recordo bem de como chegava a minha cabeça a casa ao final de um dia de trabalho. E na altura, tinha só uma filha. Os problemas que trazia para casa, as preocupações, os objectivos, os prémios. E se é certo que o tempo não é tudo, estando muito ocupadas e sendo-nos exigida uma disponibilidade para o emprego exagerada, alguém tem que ficar a perder.
Duvido seriamente que hoje, 4 filhos nascidos, eu conseguisse arranjar esse tempo de qualidade. Porque chegaria tarde e más horas a casa, veria os miúdos duas horas no máximo, e esse tempo seria preenchido com banhos e jantar. Duvido que a correr entre compras, roupa para todos vestirmos, deixá-los nas diferentes escolas, eu chegasse ao sábado cheia de energia para brincar com eles.
Vim para casa há quatro anos sem saber o que me aguardava. Bati a inúmeras portas e dediquei-me a este regime de teletrabalho. Não é fácil gerir este dia-a-dia, mas o que é fácil? Todos os meses é uma incógnita e o futuro que se avizinha não é optimista.
Também há quem defenda que isto não é para toda a gente. Dizem que é preciso ter feitio, seja lá o que isso for. Se é chato estar em casa quase sempre sem ninguém? Às vezes é. Mas mais chato era aturar directores com prazos irrazoáveis, telefones a tocar, gente enervada (e alguma, mal educada), andar no meio do trânsito. Isso, sim, era mesmo chato.
Pois é, todos temos de fazer sacrifícios. No meu caso, sacrifiquei o dinheiro. Esse insubstituível - julgamos todos - provedor de segurança. Tento gerir a agenda com o trabalho que vai aparecendo, com um bebé em casa, e toda a lida que eu tanto gosto de fazer (ou não!).
Rejeitei dinheiro e ganhei disponibilidade mental. Mais do que o tempo, ganhei condições para, todos os dias, viver com maior serenidade. Todas as decisões têm um preço. O meu foi este.
Ana Rute Cavaco
Sem comentários:
Enviar um comentário