Comecei a trabalhar em 2001, saídinha da faculdade, cheia de planos, sonhos, mangas arregaçadas e a esperança de que iria vingar no mundo de trabalho que já na altura era incerto, a recibos verdes, trabalho temporário, estágios profissionais, etc.
Comecei como trabalhadora temporária, nem 2 meses depois de acabar a licenciatura, no Departamento Financeiro de uma grande empresa de telecomunicações. A proposta não era má, apesar de temporário e como me disseram na empresa recurtadora: Há sempre a hipótese de ser absorvida pela empresa e integrar os quadros.
Acreditei, afinal eu tinha 23 anos . “ Peace of cake “ pensava, basta mostrar um bom desempenho e livro-me de não poder ter férias, de ter de fazer mais que os outros para mostar que mereço o meu lugar. ( Ai a ingenuidade )
Cedo percebi que não seria assim, que havia trabalhadores com valor que estavam há mais de 2 anos como temporários e sem fim à vista.
O ambiente de trabalho era péssimo, o temporário faz o que o efectivo não quer ou não gosta de fazer e tem de fazer isso, mais as suas funções. Os efectivos ganhavam bem mais que os temporários, fora prémios trimestrais ( salvo erro ). Fazia uma pausa mínima para café e não fazia a hora de almoço completa. Saia às 18h30/19H. Dava no entanto uns 25 minutos da minha hora de almoço que não escrevia na folha de remunerações.
Um dia dizem-me que 2 dias por mês, às vezes 3 , teria de trabalhar até à meia noite, às vezes mais... Mau, então mas isso não era suposto ter sido apresentado na proposta de emprego? Bom, era solteira, sem filhos, ok, aceito mas não fico depois das 22h. Já nessa altura era também trabalhadora independente em simultâneo que exercia depois do horário normal.
Desiludida com esse trabalho procuro outro e encontro um estágio profissional, sem subsidio de Natal, nem de férias, mas com direito às férias, sem horas extra exigivéis, numa empresa semi-pública 35 horas semanais com um horário flexível, com possibilidade séria de ao fim dos 9 meses integrar os quadros. Aceito. O senão, é para começar o mais cedo possivel. “ Depois de amanhã “ digo.
Fui despedir-me à empresa para quem prestava serviços e o meu chefe diz que precisa de mim e que vai falar ao Director para eu integrar os quadros. “ Não, obrigada, teve oportunidade de o fazer, agora já dei a minha palavra, amanhã já não venho “.
No estágio as coisas corem bem, faço o meu trabalho, o meu horário, a chefia gosta do meu desempenho e elogia-o, as colegas lêm a revista Maria, falam da novela e dos filhos adolescentes. Ponho os “ phones” e os dias passam.
3 meses depois recebo uma proposta de trabalho, a efectivo, 35horas semanais, o mesmo valor base de remuneração + subsidio de almoço, subsidio de ferias, dias de férias, prémios trimestrais. " Compro isso “.
Trabalho em paralelo para mais 4 empresas como independente. Os dias são muito cansativos mas ganho bem, na altura era o que queria. Os meus colegas de faculdade ganhavam menos de metade do que eu ganhava, tinha “ sorte “, sorte que me “ saia do pêlo “.
No 1º ano, ainda solteira, eu cumpro mais do que o exigido, eles cumprem com o exigido. Caso, continuo sem filhos e a dedicar mais dos que as 35 horas à empresa sem pagarem horas extra. Um dia falham-me nos prometidos prémios. Vou falar com o patrão. Diz que foi engano e que serei compensada no seguinte. O seguinte veio, novamente sem a rectificação e todos os seguintes , quando vieram não eram o prometido. Ao fim de 3 anos disto, desiludo-me, engravido e tiro 5 meses de licença de maternidade + 1 de férias. 6 meses fora parecia o paraiso.
Regresso e peço para gozar as 2 h da licença de amamentação juntas, no final do dia. A surpresa do meu patrão a ouvir e a sua pergunta: “Vai mesmo gozar a licença? Olhe que assim não posso avaliá-la da mesma forma nos prémios?”
“Vou sim, as horas com a minha filha não tem preço”
Ao fim de mais 4 anos tive a oportunidade de sair, com acordo com a empresa e entro no dia seguinte onde estou hoje, com alguma flexibilidade no horário, nas faltas, nas férias. Trago as crianças quando quero comigo, que os miúdos gostam sempre de ir aos trabalhos dos pais.
Gozo neste momento a minha licença de amamentação, sem dramas. Não sou prejudicada em nada, nem descontados dias de eventuais faltas. Abdiquei de 2 meses da licença de maternidade e partilhei-a com o marido.
Posso sair para ir à escola da miúda sem ver se gozo as 4 horas trimestrais legalemente previstas ou se são mais ( são sempre menos ). Alterno com o meu marido os dias que faltamos para ficar com a criança que estiver doente. Tenho na mesma os 25 dias úteis de férias, mesmo que tenha faltado para assistência à família. Gosto do que faço, há bom ambiente de trabalho, ganho quase o dobro de outros ex-colegas de faculdade. Posso algumas vezes trabalhar a partir de casa. Se é tudo o que desejo? Não, gostava de trabalhar menos horas e ganhar mais ( ou o mesmo, vá ), que ambição ainda é coisa que tenho, mas não é possível e como tal, sou ainda assim feliz e “ sortuda “... sorte que me sai do “ pêlo” muitas noites dentro, em casa, quando todos dormem, todos, menos eu.
Justo seria haver flexibilidade dos patrões, que estar em casa com as crianças é estar a formar os trabalhadores de amanhã. Que trabalhadores, cidadãos estaremos a formar quando se chega a casa estafado, quando se despacham os jantares, os banhos, as histórias e se justifica perante os filhos: Hoje não, estou muito cansada do trabalho...
Com que vontade e ambição irão estes filhos enfrentar o mercado de trabalho?
Também defendo que estes custos não deveriam ser suportados pelos patrões mas pelo Estado, numa espécie de assistência à família, até uma determinada idade.
Sou a Lúcia, mãe de 3 meninas, trabalhadora por conta de outrém a tempo inteiro, trabalhadora independente a meio tempo, mulher, esposa, dona de casa no entretanto.
Lucia
http://wonderfullbaby.blogspot.com/
esta semana tenho as duas crias mais novas comigo, crias de 4 mesinhos e isto sabe me bem... sem caras feias, olhares de esgar, nada, alias, as crianças tem ate muitos colos e mtas atençõs. Não é de todo perfeito e ainda assim gostaria de trabalhar, menos umas 2 horas por dia sempre, não apenas durante a licença de amamentação, mas é o possivel e é um possivel que não me deixa resignada, frustrada ou com a sensação de ser menos mãe, ou mãe a part time... sei que se estivesse frustrada em termos profissionais, seria pior mãe e também sei que, ( agora ) das 17 até às 22h somos para elas. Sim essas horas incluem rotinas de banhos e hora da efeição ( que a refeição é feita e congelada ao fim de semana ), mas também incluem brincadeiras, idas ao parque ou às compras e muitas conversas
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