quinta-feira, 28 de abril de 2011

Esta é uma revolução de consciências mais do que de regulamentações

Já quis ter umas dúzias de profissões diferentes, nas mais diferentes áreas; a única ocupação estável que consegui, por gosto e pelas circunstâncias, foi a de mãe. Mas também descobri depressa que não sou talhada para mãe a tempo inteiro. Vai daí, para mim, conciliar rima com trabalhar, educar e mimar. Ora aconteceu que também tive oportunidade de dedicar quase 3 anos de investigação científica à flexibilidade no trabalho e no emprego, nomeadamente no que isso significa para as mulheres. Se quiserem saber quais os resultados a que chegámos posso indicar-vos alguns papers e monografias extremamente aliciantes mas vou perder a cabeça e resumir a coisa a isto: minhas senhoras (e senhores), se querem ter flexibilidade no trabalho em Portugal, criem-na vocês. A legislação já contém muita coisa nesse sentido, que a maior parte das pessoas desconhece, e as convenções colectivas de trabalho mais recentes (em vias de extinção) também contemplam este tema, mas a verdade é que os empregadores nem sempre facilitam a coisa.
Esta é uma revolução de consciências mais do que de regulamentações. Vá lá, ninguém está à espera que uma empresa de agora se vá dar ao trabalho de criar novas formas de garantir que um funcionário não falte à festa de Carnaval da creche, pois não? É preciso que todos tomemos conhecimento dos nossos direitos legais e sejamos criativos, proactivos. Se alguma vez quis ir a festas de Carnaval da creche de um filho meu, encontrei antes disso solução para substituir o tempo de trabalho que iria faltar. Algumas vezes fui às festas, noutras não. O grau de flexibilidade também depende das tarefas executadas e do grau de responsabilidade que temos. Um profissional intelectual pode levar o portátil para casa e trabalhar depois de deitar os filhos; uma empregada de limpeza num escritório terá sempre de esfregar os lavatórios quando a empresa está fechada e não pode trazer os ditos lavatórios consigo para os lavar numa hora a que dê mais jeito.

Se calhar sou a revolucionária mais reaccionária do pedaço porque tenho poucas ilusões que este seja um movimento que possa vir de alguma coisa que não sejam pequenas acções de cada um de nós. Esta revolução não se faz com tanques nem com megafones; mas se cada uma das pessoas que ouvir falar deste movimento tiver a coragem de reavaliar a sua posição, pesar as suas prioridades e descobrir soluções para os seus problemas em concreto, a revolução já está ganha!

Gralha
http://gralhadixit.blogspot.com/

1 comentário:

  1. Exactamente. O que eu espero deste movimento é que ajude a mudar as mentalidades, porque dos meus direitos e deveres trato eu.

    ResponderEliminar