quinta-feira, 28 de abril de 2011

Porque é importante que estas situações "flexíveis" sejam reconhecidas dentro das empresas, e do conhecimento geral dos direitos de quem as exerce ou quer exercer.

Apesar de ter passado muitos maus bocados nos meus já 19 anos de trabalho, actualmente tenho de confessar que não posso queixar-me muito. (reparem: muito!)
Mas posso continuar a queixar-me, porque a alguma flexibilidade de que disponho actualmente, é-me dada "por favor" pelo meu chefe.
Primeiro que tudo, gostava de esclarecer um ponto importante: para mim, a flexibilidade de que necessito passa pelo requisito imprescindível de não poder renunciar ao meu salário: nem todo nem de uma parte sequer - preciso dele todinho.
Seguidamente, quero esclarecer também que tenho plena consciência de que a flexibilidade que reivindico para mim não pode ser aplicada a todas as pessoas. Repare-se: há funções que requerem de forma inequívoca a presença do colaborador no escritório: médicos, secretárias, recepcionistas, professores, educadores, auxiliares, limpezas, etc. Esses terão de lutar por um modelo diferente do meu, uma vez que a minha profissão pode perfeitamente ser realizada à distância (ainda que nem sempre).
Para mim, o que queria era que a minha Administração reconhecesse que o trabalho que eu realizo fora do escritório é equivalente (e nem falo das vezes - muitas - em que é superior) ao que realizo dentro do escritório, marcando presença atrás da secretária. Para mim, reivindico a presença de 4h/dia no escritório (ou mais sempre que for necessário), trabalhando as outras 4h onde me apetecesse. Nem sequer teriam custos com isso, uma vez que já tenho todo o material de que necessito.
Actualmente, tenho de marcar a tal presença atrás da secretária 8h/dia. E às vezes é mesmo só marcar presença, pois durante o periodo oficial de trabalho não tenho disposição (leia-se inspiração) para realizar o que devia, e em vez disso sento-me com ar muito trabalhador (ou não...), mas fazendo coisas tantas vezes muito diferentes das oficiais. Depois vou para casa, e no meu aconchego, com a mente já liberta, recupero o que tinha para fazer. Tantas e tantas vezes isso me aconteceu...
Actualmente eles não "me chateiam muito" se preciso de ir com os miudos ao médico, ou se tenho reuniões da escola, ou se preciso simplesmente de sair um pouco mais cedo. Mas chateiam, se estiverem mal dispostos, e atiram à cara que me "estão a deixar" perder horas de trabalho, atiram à cara que nesse mês não cumpri as 40h/semana no relógio de ponto (sim, nós temos disso!). E no entanto, o meu trabalho não está em atraso!!!
E no entanto, ainda há pouco tempo fui para Lisboa para ir a uma consulta com a minha filha, no lugar do pendura (por acaso o meu marido conseguiu ir comigo), de portátil no colo a terminar um trabalho para enviar ainda pelo caminho para o meu chefe. Fiz o trabalho, enviei, recebi as correcções, voltei a enviar, tudo enquanto viajava e estava à espera no consultório. O que ouvi quando regressei à empresa ainda nessa tarde, foi um "faltou esta manhã com um trabalho tão importante porquê?".
O que reivindico para mim é que essas 4h por dia (ou 2h, também me serviam) sejam reconhecidas como efectivas, porque nunca descurei a empresa sempre que me ausentei fisicamente.
Que isso seja reconhecido pela Administração, e que seja oficial, para que não só outros colegas possam usufruir delas se assim quiserem/necessitarem, mas também para que outros colegas deixem de olhar de lado quando entro e saio do escritório "fora de horas".
Porque estes também são importantes. Aqueles que nos olham de lado sem saberem (porque não é oficial...) e nos apontam o dedo incriminatoriamente. Seja por desconhecimento ou pura maldade ou inveja. Porque é importante que estas situações "flexíveis" sejam reconhecidas dentro das empresas, e do conhecimento geral dos direitos de quem as exerce ou quer exercer.
Porque, se o meu trabalho nunca até aqui foi descurado, já em relação ao meu tempo com os meus filhos não posso dizer o mesmo.
Porque já tive de faltar a festas de Natal, do Dia da Mãe, nunca fui a um desfile de Carnaval e já tive de mentir à minha filha para que não ficasse triste uma vez mais - fingi que a tinha visto linda e esplendorosa num desfile. E a tristeza na cara deles, embora pela boca nos digam que entendem e que "não faz mal mãe, vens na próxima", os seus olhos dizem o inverso.
Acredito que lá chegarei, que lá chegaremos.
Acredito que a luta justa e honesta terá sempre frutos, e assim sendo os nossos chegarão.
Da sempre vossa,
Sezifreda

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