Voltei ontem, dia 16, ao trabalho. E, como a livraria em que trabalho está em inventário, em vez da isenção de horário para amamentação (menos 2 horas por dia) esperava por mim 8h (8 ontem e mais 8 hoje). Pela primeira vez desde que fui mãe deixei o meu bebecas mais do que 2 ou 3 horas sem a mãe… estivemos separados das 9h20 às 19h15… Sou sincera: não sei como teria aguentado sem o telemóvel repleto de fotos dele e sem a minha mãe me enviar mms com o sorriso aberto com que ele me brindava todos os dias. E atenção… eu sou uma sortuda! Não só por estar empregada e efectiva, mas também porque o meu filhote vai ficar com os meus pais até aos 3 aninhos! Mas… Não é bem a mesma coisa, pois não?
Sim, posso considerar-me afortunada por ter um emprego, por estar efectiva e por receber sempre a horas! Sim, o meu filho vai ser bem cuidado pelos avós, mimado até mais não, vai ter toda a atenção focada nele e vai, sem sombra de dúvidas, ser feliz!... Mas a mamã dele é que não está tão feliz assim…
Como já disse na anterior acção pela flexibilização no trabalho, eu sempre disse à boca cheia que, se um dia viesse a ser mãe, queria ser mãe trabalhadora… A ideia de ser “dona-de-casa” parecia-me retrógrada e limitativa. E, nesse ponto, continuo a pensar o mesmo… Mas agora, e depois de passar os meses mais felizes da minha vida 24 horas por dia dedicada e rendida aos sorrisos de um pequeno ser, a ideia de ter de me ausentar do pé dele e, possivelmente perder alguns dos marcos mais importantes do seu crescimento faz-me ver que também há limitações no que diz respeito ao mundo do trabalho. Ontem, por exemplo, depois de dar a mamada das 9h ao Alexandre, só o voltei a ver já passava das 19h… Ora, e como a mudança de rotina não se aplicou só a mim, mas a ele também, o Alexandre esteve com a espertina todo o dia… Resultado, desde que cheguei a casa praticamente só vi o meu filhote de olhos fechados. Para muitos pais, para quem o tempo dedicado aos filhos é uma obrigação e o prazer que disso advém um mistério, a situação poderia ser satisfatória… Para mim não foi!
Quero ser uma mãe presente na vida do meu filhote. Quero estar lá nas horas dos sorrisos e nas birras… quero vê-lo a descobrir este grande mundo que o rodeia e, ao fazê-lo, redescobri-lo, eu própria, pelos olhos inocentes do meu filho. Quero curar-lhe as feridas com um beijinho, pois todos sabem que não há melhor analgésico que um beijo de mãe. Quero ajudá-lo a conquistar as suas batalhas. Mas, para isso, o ideal seria um horário de trabalho flexível!
No meu caso, que trabalho numa livraria, não posso pedir para fazer parte o trabalho em casa (a não ser a gestão de conteúdos – textos críticos e sinopses das obras – mas isso já eu fazia em casa, antes de engravidar, e para além das 8 horas diárias). O que posso pedir é uma carga horária mais pequena. No meu caso, 5 horas diárias seriam o ideal. Teria tempo para me dedicar a rebolar na areia com o Alexandre ao fim do dia e, ao mesmo tempo, tenho a certeza que a minha produtividade não diminuiria. Isto porque, uma mãe estar afastada do seu tesouro mais não faz que, com a insatisfação, a tristeza e a ânsia de regressar para junto dele, essa mulher não se consiga entregar a 100% à tarefa que tem em mãos. Ou porque conta os minutos que ainda faltam; ou porque se questiona se ele estará bem, se comeu tudo, se fez birra, se a tosse que tinha de manhã piorou, se não se esquecerão de lhe colocar o chapéu se vier à rua, etc etc etc
Eu, que tenho o pipoca com os meus pais, tenho a certeza que ele não poderia estar mais bem tratado. Sei que, de certeza, sinto mais eu a falta dele que ele a minha… Mas se sou eu que tenho de dar o meu contributo à classe trabalhadora do meu país, não deveria ser com a minha realização que o meu país se deveria preocupar?
Hoje em dia a palavra chave é “CRISE”. E com ela vêm a reboque as suas primas mais pequenas, mas cujos estragos são certeiros: precariedade, insatisfação, desalento, desemprego, dívida, … As pessoas que têm a sorte de estar empregadas sentem-se quase na obrigação de a tudo se sujeitarem para não engrossarem as filas do IEFP local. Mas a flexibilização, ao contrário do que podem alegar as altas esferas, não é uma desculpa para andar “na balda”. É, isso sim, uma excelente maneira de optimizar as qualidades e as forças de uma trabalhadora sem se ter de levar, na linguagem da “bisca” e da “sueca”, com a palha que mais não faz que encher sem de nada servir.
O meu ideal, na minha situação actual, era um horário reduzido que me permitisse estar presente na vida do meu filho mais que um par de horas por dia.
O meu ideal, sem ter de me colocar limites, era, finalmente, conseguir trabalhar em Tradução (o meu curso), em formato freelancer para poder gerir o meu tempo da melhor maneira possível (até porque sei que sou mais produtiva à noite mas, não sei porquê, as livrarias estão abertas de dia).
Kelita
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