segunda-feira, 18 de abril de 2011

Um horário reduzido que me permitisse estar presente na vida do meu filho mais que um par de horas por dia

Voltei ontem, dia 16, ao trabalho.  E, como a livraria em que trabalho está em inventário, em vez da isenção de horário para amamentação (menos 2 horas por dia) esperava por mim 8h (8 ontem e mais 8 hoje).  Pela primeira vez desde que fui mãe deixei o meu bebecas mais do que 2 ou 3 horas sem a mãe…  estivemos separados das 9h20 às 19h15…  Sou sincera:  não sei como teria aguentado sem o telemóvel repleto de fotos dele e sem a minha mãe me enviar mms com o sorriso aberto com que ele me brindava todos os dias.  E atenção…  eu sou uma sortuda!  Não só por estar empregada e efectiva, mas também porque o meu filhote vai ficar com os meus pais até aos 3 aninhos!  Mas…  Não é bem a mesma coisa, pois não?
Sim, posso considerar-me afortunada por ter um emprego, por estar efectiva e por receber sempre a horas!  Sim, o meu filho vai ser bem cuidado pelos avós, mimado até mais não, vai ter toda a atenção focada nele e vai, sem sombra de dúvidas, ser feliz!...  Mas a mamã dele é que não está tão feliz assim…
Como já disse na anterior acção pela flexibilização no trabalho, eu sempre disse à boca cheia que, se um dia viesse a ser mãe, queria ser mãe trabalhadora…  A ideia de ser “dona-de-casa” parecia-me retrógrada e limitativa.  E, nesse ponto, continuo a pensar o mesmo…  Mas agora, e depois de passar os meses mais felizes da minha vida 24 horas por dia dedicada e rendida aos sorrisos de um pequeno ser, a ideia de ter de me ausentar do pé dele e, possivelmente perder alguns dos marcos mais importantes do seu crescimento faz-me ver que também há limitações no que diz respeito ao mundo do trabalho.  Ontem, por exemplo, depois de dar a mamada das 9h ao Alexandre, só o voltei a ver já passava das 19h…  Ora, e como a mudança de rotina não se aplicou só a mim, mas a ele também, o Alexandre esteve com a espertina todo o dia…  Resultado, desde que cheguei a casa praticamente só vi o meu filhote de olhos fechados.  Para muitos pais, para quem o tempo dedicado aos filhos é uma obrigação e o prazer que disso advém um mistério, a situação poderia ser satisfatória…  Para mim não foi!
Quero ser uma mãe presente na vida do meu filhote.  Quero estar lá nas horas dos sorrisos e nas birras…  quero vê-lo a descobrir este grande mundo que o rodeia e, ao fazê-lo, redescobri-lo, eu própria, pelos olhos inocentes do meu filho.  Quero curar-lhe as feridas com um beijinho, pois todos sabem que não há melhor analgésico que um beijo de mãe.  Quero ajudá-lo a conquistar as suas batalhas.  Mas, para isso, o ideal seria um horário de trabalho flexível!
No meu caso, que trabalho numa livraria, não posso pedir para fazer parte o trabalho em casa (a não ser a gestão de conteúdos – textos críticos e sinopses das obras – mas isso já eu fazia em casa, antes de engravidar, e para além das 8 horas diárias).  O que posso pedir é uma carga horária mais pequena.  No meu caso, 5 horas diárias seriam o ideal.  Teria tempo para me dedicar a rebolar na areia com o Alexandre ao fim do dia e, ao mesmo tempo, tenho a certeza que a minha produtividade não diminuiria.  Isto porque, uma mãe estar afastada do seu tesouro mais não faz que, com a insatisfação, a tristeza e a ânsia de regressar para junto dele, essa mulher não se consiga entregar a 100% à tarefa que tem em mãos.  Ou porque conta os minutos que ainda faltam; ou porque se questiona se ele estará bem, se comeu tudo, se fez birra, se a tosse que tinha de manhã piorou, se não se esquecerão de lhe colocar o chapéu se vier à rua, etc etc etc
Eu, que tenho o pipoca com os meus pais, tenho a certeza que ele não poderia estar mais bem tratado.  Sei que, de certeza, sinto mais eu a falta dele que ele a minha…  Mas se sou eu que tenho de dar o meu contributo à classe trabalhadora do meu país, não deveria ser com a minha realização que o meu país se deveria preocupar? 
Hoje em dia a palavra chave é “CRISE”.  E com ela vêm a reboque as suas primas mais pequenas, mas cujos estragos são certeiros: precariedade, insatisfação, desalento, desemprego, dívida, …  As pessoas que têm a sorte de estar empregadas sentem-se quase na obrigação de a tudo se sujeitarem para não engrossarem as filas do IEFP local.  Mas a flexibilização, ao contrário do que podem alegar as altas esferas, não é uma desculpa para andar “na balda”.  É, isso sim, uma excelente maneira de optimizar as qualidades e as forças de uma trabalhadora sem se ter de levar, na linguagem da “bisca” e da “sueca”, com a palha que mais não faz que encher sem de nada servir.
O meu ideal, na minha situação actual, era um horário reduzido que me permitisse estar presente na vida do meu filho mais que um par de horas por dia. 
O meu ideal, sem ter de me colocar limites, era, finalmente, conseguir trabalhar em Tradução (o meu curso), em formato freelancer para poder gerir o meu tempo da melhor maneira possível (até porque sei que sou mais produtiva à noite mas, não sei porquê, as livrarias estão abertas de dia).
Kelita

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