quarta-feira, 25 de maio de 2011

Teletrabalho

O teletrabalho tem sido das formas de organização de trabalho que mais polémica tem levantado, por um lado porque algumas empresas antecipam assim os despedimentos e o encerramento de áreas de negócio, por outro porque os trabalhadores acabam resvalando em termos dos projectos.

A wikipedia dá um bom resumo das vantagens e desvantagens deste tipo de prestação do trabalho, quer para os empregadores, quer para os trabalhadores. No essencial, existem hoje em dia várias tecnologias que facilitam o acesso informático às redes da empresa, legislação que abrange a casa dos trabalhadores durante as horas de serviço, formas de controlar resultados e objectivos. O que continua a faltar é a mentalidade, a atitude, a forma de ver as coisas.

O teletrabalho é ideal para uma série de funções em que o trabalho é feito por projectos e depende de muito trabalho solitário, quer criativo, quer administrativo. As vantagens para a empresa são óbvias uma vez que muitos dos custos do posto de trabalho podem ser eliminados, mas as contrapartidas também são grandes. Aquilo que os trabalhadores podem oferecer são formas mais apertadas de controle sobre o seu trabalho – como os relatórios de actividade ou a contabilização de tarefas.

A combinação entre o teletrabalho e o trabalho localizado na empresa apenas alguns dias da semana pode ser uma solução para as questões relacionadas com o trabalho em equipa, com o espírito de pertença à empresa e com o controle necessário por parte do empregador.


Acima de tudo o importante é que seja um bom negócio para ambas as partes: que o trabalhador consiga conciliar melhor a sua vida pessoal e profissional estando presente nas alturas críticas de ambos os lados; e que o empregador sinta que consegue mais trabalho e menos custos.

Nada como sugerir uma experiência, num projecto concreto, ou num tipo concreto de tarefa. Dado que isto é mais óbvio para profissões e funções mais especializadas, também acredito que seja possível no caso das funções administrativas e até de apoio administrativo directo – é uma questão de organização.

Quando a experiência resulta todos ficam surpreendidos e agradados, mas é muito muito difícil convencer os chefes e os patrões a experimentar, por isso deixo a sugestão / provocação de que tentem quando não resta aos empregadores outra alternativa senão aceitar. Por exemplo numa baixa pessoal ou de assistência à família, por exemplo num período de férias obrigatórias por não se terem esgotado as do ano anterior: “não vou estar por direito meu, mas pela empresa posso fazer a experiência do teletrabalho e ver como resulta”.

Que isto não soe como um conselho para partir um pé e ter que trabalhar de casa, porque a maioria das empresas nem sequer vai aceitar, preferindo não correr o risco de abrir o precedente. Mas em casos pontuais, em que vejam surgir a oportunidade, nada como tentar. O “não” está garantido. E as vantagens para ambos os lados também podem estar.
Uma vez conseguido o teletrabalho é preciso alguns cuidados por parte do trabalhador, organização e disciplina para não deixar de cumprir as suas obrigações e não se deixar distrair pelo ritmo alucinado do quotidiano com a família em casa – é jornada dupla para as mães! O isolamento das equipas e a perda de sentido de pertença também podem ser assegurados com contactos regulares com a empresa, seja comparecendo a reuniões periódicas, seja convivendo com os colegas numa ou noutra reunião e almoço. O importante é conseguir manter a camisola vestida e mostrar que se pode pertencer, cumprir e estar em casa. Não é fácil e pode parecer muito mais duro do que cumprir o 9h-17h habituais, mas por vezes compensa poder estar presente em alturas que ninguém imaginaria que aconteceriam ou poder organizar o ritmo de vida de forma mais produtiva em todos os sentidos.

Garantidamente que o cafézinho se torna mais curto e os corredores menos concorridos, mas também é verdade que o isolamento pode ser apenas para alguns!

Ana Teresa Mota
(Consultora em Recursos Humanos)
rhparaflexibilizar@gmail.com

1 comentário:

  1. Não encontrei dados relativos a Portugal, mas os do Reino Unido (http://www.teleworkresearchnetwork.com/telework-in-the-uk-webinar/6093) são animadores: as empresas que permitem que os colaboradores trabalhem 2 dias por semana em casa, em média aumentam a produtividade em 20% (...) e reduzem o absentismo em 7%...
    É uma pena que, mesmo lá, ainda sejam tão poucas as empresas a aderir ao teletrabalho...

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