quinta-feira, 26 de maio de 2011

Super-mulheres de família

O papel da mulher tem caminhado ao longo de um trilho de grandes mudanças, marcado por um aumento exponencial de exigências. É-lhe cada vez mais solicitado que se transforme em super-mulher e que mantenha, em todas as situações, estampado no rosto um sorriso igual ao do super-homem.

Mas aquilo que a sociedade se esquece, ou faz por esquecer, é que mesmo esta personagem tem uma fraqueza principal, a chamada Kryptonite, que absorve os seus poderes e a impede de salvar o mundo. E até aqui se vê a evolução dos tempos. Para a mulher não é apenas uma substância que absorve as suas capacidades, mas várias. O stress, o trabalho e as tarefas domésticas são os principais perigos que enfrenta quando tenta salvar o seu mundo e ser mais, e melhor, para a sua família.

Quando se pensa na solução para esta problemática, a resposta não aparece automaticamente, mas também não é impossível. Mesmo que a sociedade tente conter os movimentos no sentido de um bem-estar, o ser humano tem sempre a sua liberdade de escolha e um sem fim de possibilidades. O bom senso diz-nos que é possível trabalhar em horário reduzido e mesmo assim ir de encontro à produtividade esperada pelo empregador. E algumas sociedades mostram-nos como sendo viável, e até consagrado na lei.

Distanciando-nos um pouco deste lado mais pragmático, mas tendo-o como pano de fundo, sabe-se que são inúmeras as vantagens para a mulher, e por consequência para a família e o trabalho, ver validada uma oportunidade de flexibilização de horários. De um modo geral, a capacidade em manter um equilíbrio entre o trabalho e a família, assim como um envolvimento permanente, são sinónimos de uma vida preenchida e “bem vivida”.1 Mulheres que retornam ao mercado de trabalho – após a licença de maternidade – e passam a funções em part-time, sentem-se mais realizadas e são mais felizes, particularmente se a redução não implicar uma alteração do estatuto no local de trabalho.2 Esta felicidade traduz-se numa maior disponibilidade emocional, e física, para apoiar os filhos durante o seu crescimento e ajudá-los a ultrapassar eventuais dificuldades, assim como numa maior abertura para criar um espaço de relação entre o casal, e com os filhos, mais próximo e enriquecedor.

Principalmente nos primeiros anos de vida dos filhos é importante para a mulher estar presente e sentir que não irá perder nenhum momento decisivo do desenvolvimento dos mesmos. Quando os filhos se sentam pela primeira vez, quando dizem a primeira palavra, quando entram para a creche ou escola, quando perdem o primeiro dente, ou quando vão para o futebol ou o ballet, ou a ginástica, etc, a mãe quer estar lá, ao lado e apoiante.

Por todos estes motivos é impreterível que a mulher não se sinta dividida entre o trabalho e a família mas possa ter, pelo contrário, o melhor dos dois mundos. A felicidade, a sensação de bem-estar, a realização pessoal, assim como um melhor equilíbrio entre as duas grandes áreas da vida, são aspectos importantes na prevenção de algumas patologias como o stress, a ansiedade, a depressão e as perturbações do sono.
E como falamos em família, obviamente, não nos podemos esquecer de referir que também para os homens o equilíbrio entre a família e o trabalho é importante e mais, na nossa sociedade o papel do pai tem igualmente sofrido algumas mudanças de paradigma. Actualmente, muitos pais escolhem ficar em casa ou ter horários reduzidos para acompanharem mais de perto o desenvolvimento dos filhos. E claro, para as crianças, também as escolhas que ambos, mães e pais, decidem abraçar, têm impacto no seu desenvolvimento.
Neste sentido, e nas próximas semanas, iremos dedicar o nosso espaço de partilha a um olhar atento e cuidado sobre os pais e os filhos.

Cátia Santos
Psicóloga, área Psicologia Clínica
Publica artigo de psicologia no "Revolucionar para Flexibilizar" às 5as feiras e responde aos comentários no blogue ou no e-mail psicologiaparaflexibilizar@gmail.com.

1 Allen, T. D., Herst, D. E., Bruck, C. S., & Sutton, M. (2000). Consequences associated with work-to-family conflict: A review and agenda for future research. Journal of Occupational Health Psychology, 5, 278-308.
2 Holst, E., & Trzcinski, E. (2000) . High satisfaction among mothers who work Part-time. Economic Bulletin 40 (10), 327-332.


2 comentários:

  1. Muito bom o artigo. Aproveito para vos deixar algumas sugestões de leitura:

    Andando eu a cirandar pela Bertrand, a fim de namorar capas de livros que não vou comprar com o meu (inexistente) ordenado de Mãe, dei de caras com estas três pérolas, relacionadas com a nossa causa, que passo a recomendar:

    - "O Segredo das Mães Felizes", Cathy Greenberg, Ed. Academia do Livro;
    - "Não Há Famílias Perfeitas", Marta Gautier, Ed. Objectiva;
    - "Gestão de Tempo para Mulheres Muito Ocupadas", Maria José Silveira Núncio, Ed. Ideias de Ler.

    Todas focam a questão do malabarismo casa/trabalho/filhos/marido ou, se preferirem, a temática da conciliação trabalho-família, do mito da supermulher e de como não há ser humano que aguente... Espero que gostem das minhas sugestões.

    A Joana Soares sugeriu também:
    "Super Mães, Super Mulheres", Katherine Ellison, Ed. Lua de Papel

    ResponderEliminar
  2. Li o Segredo das mães felizes e achei muita piada à noção de que somos todas CEO das nossas casas/famílias. Haverá cargo mais importante?

    patrícia

    ResponderEliminar