Depois, de por acaso ter desembocado numa série de blogs onde algumas mães publicaram as suas experiências de mães e pais neste país de mentalidades caducas, resolvi ressuscitar o meu blog para também acenar esta bandeira...tão pomposamente chamada de "conciliação entre a vida familiar e profissional".
E teria tanto a dizer! Eu que saí, quase directamente, da barriga da minha mãe para uma creche algures em Lisboa, a abarrotar de recém-nascidos, provávelmente em estado catatónico. Tinha um mês e estavamos em 1974! É verdade, a licença de maternidade era de um mês e chegou a ser de 15 dias!
Não me lembro de brincar com a minha mãe (ela já dava o que podia e não podia para nos manter vestidos e alimentados e manter as contas pagas) e ajuda para trabalhos de casa, nem pensar, muito menos a presença dela numa reunião escolar! Há 4 anos lá se conseguiu vir embora da empresa à qual deu o tempo que, estou certa, gostaria de ter partilhado mais com os seus filhos! Lembro-me de a ouvir dizer: "finalmente vou ter para os meus netos o tempo que não tive para os meus filhos". Morreu um ano depois!
Sei que não sou a única filha da creche e do infantário! Somos muitos e não é hora para lamentações mas há que "pôr a boca no trombone" e lembrar SEMPRE que ainda está quase TUDO por fazer! É certo que alguma coisa mudou, pelo menos na lei, no papel, mas o que está na lei, infelizmente, não muda o que está na cabeça das pessoas.
Quanda a minha filha tinha 2 anos enchi-me de coragem e resolvi reclamar um desses direitos legais, supostamente, consagrados. O direito a usufruir de flexibilidade de horário por ter uma filha com menos de 12 anos. Recebi cartas de várias páginas (registadas e com aviso de recepção) a explicar que não me podia ser atribuido esse direito porque tal iria afectar drásticamente o serviço (a palavra drásticamente ou algo muito semelhante estava mesmo contida numa das cartas, por incrivel que pareça).
Umas semanas depois o serviço onde trabalhava pediu superiormente que me fosse atribuido horário flexivel por conveniência do serviço. Rápidamente recebi uma carta a dizer que, por conveniência do serviço, teria o tal horário flexivel de imediato.
E onde fica a conveniência das famílias deste país que será cada vez mais para velhos porque não permitem que seja de outra forma? Num país onde a qualidade do trabalho é medida pelo número de horas que se queima no posto de trabalho e onde não se percebe que se um trabalhador precisa de 12 horas para fazer o seu trabalho ou tem trabalho a mais ou não sabe gerir o seu tempo de trabalho. Infelizmente, na maior parte dos casos acredito que muita gente fica a fazer missa de corpo presente porque só assim se é visto como um bom trabalhador.
Pora mim a opção é clara! Não há dinheiro a mais no salário, aprovação do chefe, necessidade de reconhecimento profissional ou olhares reprovadores, quando saio a horas, que se sobreponham ao prazer de disfrutar mais tempo da presença do pequeno ser a quem dei a vida. Se lamentar alguma alguma coisa que não seja não ter testemunhado cada pequena etapa do crescimento da minha filha. Mas saír a horas, é o mínimo dos mínimos. Onde está a consagração do direito a trabalhar em jornada contínua ou em part-time? Como é que se admite que a lei só atribua 30 dias por baixa de assistência à família (claro que todos gostariamos que as nossas crianças não adoecessem nem um dia por ano, mas...). Isto já para não lembrar as dezenas de mulheres que vão a uma entrevista de emprego onde lhes perguntam descaradamente se tencionam engravidar ou nas que não vêm o seu contrato renovado por estarem grávidas. Venham-me, então, falar do envelhecimento da população portuguesa que teria tanto para lhes esfregar na cara.
Este país é só para velhos...de mentalidade!
RR
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