Ainda não sou mãe, mas na minha opinião este problema não se resume
apenas às mães.
Em 2009 participei num programa de geminação entre organizações
portuguesas e norueguesas, para a conciliação da vida profissional e
pessoal, e é essa experiência que gostava de partilhar.
Todos sabemos que a sociedade Norueguesa tem um elevado nível de
produtividade. Poucos sabemos que privilegiam, e muito, a conciliação
não da vida familiar mas da vida PESSOAL com a vida profissional. Qual
a diferença? Fora o trabalho, as pessoas não são só mães ou pais, são
também mulheres e homens que precisam de um bocadinho de tempo para
si, para conseguirem maximizar o tempo que têm para a família e até
para o trabalho.
Na Noruega a questão da conciliação torna-se mais fácil porque está
inteiramente regulamentada por lei. As mulheres podem tirar um ano de
licença de maternidade paga, e nos primeiros anos de vida dos filhos
podem escolher colocá-los numa escola ou ficar com eles em casa,
recebendo o valor que o estado pagaria pelo infantário dessa criança.
Pouca gente trabalha à sexta-feira à tarde, e há flexibilidade de
horários. Assim, se num dia precisares de entrar às 11h00 porque
tiveste que acompanhar um filho a uma consulta, tudo bem. Podes
trabalhar até mais tarde, se precisares. O trabalho organiza-se por
objectivos, e ninguém é mal visto por sair mais cedo. Antes pelo
contrário: Se sais cedo és considerado produtivo, atingiste os teus
objectivos mais rapidamente.
O expediente diário termina mais cedo, porque não há uma hora e meia
para almoço. Há uma pausa de 30 minutos, que serve para comer qualquer
coisa e esticar as pernas. Como o dia de trabalho dura 7h30, começam
às 8h e às 16h estão a sair. O que dá mais que tempo para ir buscar os
filhos, levá-los às aulas de ski, ballet, futebol ou qualquer outra
actividade. As empresas proporcionam os chamados serviços de
proximidade aos colaboradores, que representam um custo mínimo para a
organização e uma grande mais-valia para os colaboradores. A título de
exemplo, vão à farmácia pelo colaborador, levam uns sapatos ao
sapateiro, algumas até têm serviços que permitem ao colaborador levar
o jantar já feito para casa!
Quando os filhos crescem, muitas mulheres optam por uma redução da
carga horária, da forma que mais lhes convêm: Algumas optam por
trabalhar menos duas horas por dia e ter uma redução de 10h/semana,
outras optam por trabalhar menos dois dias por semana, tendo uma
redução de 15h. Por lei, esta decisão não pode ser contestada pela
entidade patronal, e a pessoa não pode perder a oportunidade de
ascensão na carreira. Para equilibrar e garantir a paridade de género,
há quotas que tanto organismos públicos como empresas privadas são
obrigadas a cumprir: Por cada X homens em cargos de gestão de topo,
têm que existir Y mulheres.
Espero que o meu contributo ajude de alguma forma, e estou disponível
para participar no que acharem necessário.
Beijinhos,
Erica
Era isto, Erica. Era mesmo isto ou parecido que a sociedade portuguesa precisava. Obrigada.
ResponderEliminarera isto, realmente...
ResponderEliminareu também pedi para abdicar do almoço, e riram-se...
ResponderEliminar:)
Eu só porque quis fazer valer os meus direitos de usufruir das 2 horas de aleitamento até a minha filha fazer 1 ano, a empresa criou-me problemas e impôs-me um horário impraticável de modo a que quisesse vir embora por comum acordo e assim foi...tentei por a empresa em tribunal mas disseram-me que eles agiram dentro da lei.
ResponderEliminarEm termos práticos acabava por ficar o dia todo fora de casa. Entrava ao meio dia e saia às 13h, depois andava duas horas a passear, porque nem me dava tempo de ir a casa e ficava a trabalhar até às 20h
ResponderEliminarLike!
ResponderEliminarEu gostava de perceber como é que a Noruega chegou até aqui, podia ser que conseguissemos importar o modelo. Mas por aqui nem tudo é mau: ontem, 2 de maio, tinha festa do dia da mãe na escola às 16h. Normalmente saio às 17h (só tenho meia hora para almoço) e chego ao infantário às 17h30. Pedi para vir uma hora mais cedo e sair 10 minutos mais cedo. O chefe disse que sim, tudo bem, sorriu-me como quem me deseja "boa festa" e eu lá fui. Não sei se entre os colegas alguém me olhou de lado mas eu não vi (ou não quis ver), só quis saber da festa. Não quero com isto dizer que às vezes não tenha dias maus, dias em que sinto a pressão, dias em que me dão a entender que gostariam que eu ficasse até mais tarde, dias em que eu me sinto obrigada a ficar, dias em que me sinto obrigada a trabalhar a partir de casa, dias em que sou avaliada e me dizem que não me dão 10 valores à pontualidade e assiduidade, não porque eu não seja pontual e assídua mas porque não tenho disponibilidade total.
ResponderEliminarPortanto, é possível!
ResponderEliminarErica, o modelo da Noruega para mim é fantástico.
ResponderEliminarPara a nossa revoluçao poderia ser entendido como orientaçao ou objectivo/meta a atingir.
Quem sabe não conseguimos chegar lá?!
Tens conhecimento da legislaçao que alicerça o sistema laboral?
Eu desconhecia por completo esta realidade, vou procurar saber mais.
O que me trama é o meu ingles ser tão fraquinho.
Nunca pensei que algum dia sentisse tanta falta de ter mais conhecimentos de inglês.
Não podemos ser perfeitas, e vou sempre a tempo.