quinta-feira, 9 de junho de 2011

O malabarismo no masculino

CATIA SANTOS | PSICOLOGA, AREA DE PSICOLOGIA CLINICA

O mundo está em mudança. E isso não é necessariamente uma coisa má. Pelo contrário, a mudança pode ser vista com um catalisador do maravilhoso e do fantástico. Falámos de mulheres, ou melhor, super mulheres, e da sua dificuldade ou facilidade, mais uma vez uma questão de perspectiva, em conciliar a família e o trabalho. E permanece a questão, então e os homens? Será que vêm mesmo de outro planeta, ou partilham algo em comum com as mulheres? As últimas estatísticas de estudos realizados em Portugal1 dizem-nos que a percentagem de homens que escolhe ficar em casa com os filhos após o nascimento destes (em licença de paternidade) é, ainda, pequena (25%). O estudo acrescenta que "toda a gente sabe que quem se ausenta do local de trabalho para cuidar dos filhos é discriminado em termos de promoções e de ordenados e os homens não querem suportar esses sacrifícios.". E aqui podemos fazer uma ponte com o artigo publicado anteriormente, e encontramos uma semelhança relativamente às mulheres, a discriminação no local de trabalho.
Porém, estamos perante um aspecto que nos capta a atenção, a mudança de rumo. Os homens, ainda que timidamente, vão mostrando-se interessados em estar mais presentes para os filhos, em serem bons pais e bons profissionais. O seu papel tem sido cada vez mais relevante no desenvolvimento das crianças, sendo os pais reconhecidos como figuras activas e contentoras dos filhos, participando nas rotinas e nas actividades que constituem o quotidiano da vida em família. 2
A conciliação entre a família e o trabalho caracteriza-se por três aspectos principais: tempo, envolvimento e satisfação. O homem é capaz de ser bom pai e trabalhador quando consegue dedicar o mesmo tempo aos dois grandes papéis sociais. No que diz respeito ao envolvimento implica que haja um interesse genuíno e dedicação tanto na família como no trabalho. E, por fim, caracteriza-se por um nível de satisfação no desempenho dos papéis de pai e trabalhador. Considera-se que quando esta conciliação é bem conseguida, o bem-estar é igualmente atingindo.3
No entanto, é cada vez mais evidente de que tal é praticamente impossível e que o stress está presente na maioria dos casos pela pressão exercida, principalmente, ao nível do trabalho. De um modo geral, os homens que se dedicam em pleno ao trabalho apresentam uma menor disponibilidade para estabelecer e manter uma boa ligação emocional com os filhos, acrescentando-se o facto de que o excesso de trabalho pode explicar o porquê de os homens se distanciarem do lado social/relacional em família.2 O stress resulta, igualmente, numa menor qualidade de vida podendo inclusive reduzir a eficácia no trabalho.
Salienta-se que alguns indivíduos, dependo de factores como a personalidade e o seu modo de estar no mundo e com os outros, assim como da percepção relativamente à importância em ter um papel mais activo no desenvolvimento dos filhos, podem ser bem sucedidos na conciliação entre a família e a o trabalho. Porém, tal apenas se verifica quando existe um equilíbrio nos três aspectos referidos anteriormente, isto é, quando há uma igual disponibilidade de tempo, envolvimento e satisfação tanto no desempenho de funções de pai como de trabalhador. Noutras situações, a alteração das condições laborais e a flexibilização nesta esfera da vida, poderiam ser impulsionadoras de mudanças positivas e frutíferas tanto para o trabalhador, como para a empresa.

Catia Santos Publica artigo de psicologia no "Revolucionar para Flexibilizar" às 5as feiras e responde aos comentários no blogue ou no e-mail psicologiaparaflexibilizar@gmail.com.

2 McDonald, D. A., & Almeida, D. M. (2004). The interweave of fathers’ daily work experiencies and fathering behaviors. Fathering, 2 (2), 235-251.
3 Greenhaus, J. H., Collins, K. M., & Shaw, J. D. (2003). The relation between work-family balance and quality of live. Jornal of Vocational Behavior, 63, 510-531.

6 comentários:

  1. Estou um bocado chocada com a percentagem de homens que tira a licença de paternidade. 25 por cento, só????? Parece-me que cada vez mais se tem filhos para os ver dormir à noite e pouco mais...

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  2. Em França a presidente do MEDEF sugeriu uma licença de paternidade obrigatoria (em França dois terços dos homens utilizam este direito). Ao principio a palavra "obrigatorio" chocou-me mas vendo bem as coisas, começo a pensar se sera uma tão ma ideia assim : ganhava a familia e a mulher livrava-se de uma espécie de "gueto protector" que por vezes é uma razão que a impede de crescer na carreira. Mais uma vez, paises como a Noruega estão à frente, onde um homem que contribui para a organização e se dedica à familia não é um mau trabalhador, ao contrario.

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  3. Aqui também existe a obrigatória, são os cinco primeiros dias. Mas conheço quem tenha pedido autorização especial à SS para não a tirar.

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  4. Em Portugal, acredito que, neste texto, se esteja a referir a isto :

    "A licença parental inicial exclusiva do pai tem a duração total de 20 dias úteis, dos quais 10 são de gozo obrigatório e os outros 10 de gozo facultativo. Os 10 dias úteis obrigatórios devem ser gozados nos 30 dias seguintes ao nascimento do/a filho/a, sendo os primeiros 5 dias gozados de modo consecutivo, imediatamente a seguir ao nascimento. Os 10 dias úteis facultativos podem ser gozados após os primeiros 10 dias obrigatórios, de modo consecutivo ou interpolado, em simultâneo com a licença parental inicial por parte da mãe."

    Em França, refere-se a passar a licença do pai a dois meses e obrigatoriamente, de forma a criar verdeiros laços com a criança e ganhar uma consciência real do que é necessario fazer para que haja igualidade, mas é apenas uma sugestão, não é sequer um projecto de lei.

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  5. Calita, compreendo que a percentagem cause alguma indignação, principalmente porque na actualidade se ouve falar em filhos que apresentam problemas comportamentais como os casos de violência tão mediatizados. Grande parte dos profissionais de Psicologia e Psiquiatria concordam que o exemplo que os filhos têm em casa, que decerto terá a ver com esta aparente indiferença dos pais em ter um papel mais activo na vida dos filhos, moldam os jovens. Seria interessante perceber as causas inerentes a esta ausência de envolvimento por parte dos pais e tal como o estudo mencionado refere, perceber o motivo pelo qual este mito permanece vivo: "toda a gente sabe que quem se ausenta do local de trabalho para cuidar dos filhos é discriminado em termos de promoções e de ordenados e os homens não querem suportar esses sacrifícios". Será um ponto, certamente, que de futuro tentarei explorar.

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  6. Um tema bastante complexo para um simples comentário... Puderei um dia fazer um Brainstorming no meu Blogue...

    Se por um lado temos as alterações a nivel social, emacipação da mulher no mercado de trabalho, e familiar, cada vez mais os novos casais estão sós e não tem o suporte familiar, que "obrigaram" a última geração de Pais a ter um papel mais activo na educação dos seus filhos...
    Por outro lado da balança temos os pesados esteriotipos da sociadade portuguesa transmitidos pelos Pais, Avós, Tios, colegas de trabalho..

    Sou um Pai que gozou as licenças possiveis em 2007, 5 dias uteis mais 15 de calendário e achei pouco...
    Sei que a Lei alterou em 2008, felismente para melhor... mas continuo a achar pouco!

    Em portugal não temos muito a cultura de divulgação dos nossos direitos e os cidadões não estão muito alertas para a sua cidadania.

    Conheco muitos Pais que quando chegaram ao momento de escolher não sabiam de todas as opções que disponham... Outros que por motivos laborais não poderamm usufruir a totalidade das licenças... Outros porque são muito "machos" e não gozaram as licenças...

    Na minha opinião os Pais passam pouco tempo com os seus filhos, entre deixar os filhos na escola e ir buscar a um ATL podem passar mais de 9 horas ou mais... Com o mercado de trabalho a pedir mais e melhor trabalho as familias começam a ficar sem tempo...

    Sem tempo para os primeiros meses de vida... Para o primeiro ano... para o segundo ano... A coisas que eles não repetem:
    O primeiro sorriso, a primeira palavara, o primeiro passo...
    Muitos Pais não acompanharam muita coisa dos seus filhos porque não puderam estar presentes!

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