Tenho a sorte de trabalhar numa empresa onde as pessoas são tratadas como pessoas e não como máquinas de produzir coisas. Se calhar a área de negócio ajuda - trabalho em comunicação - ou se calhar tem tudo a ver com a essência do patronato.
Estou há quase seis anos nesta empresa. Nem tudo foram rosas, mas passo a passo as coisas foram acontecendo. Tive dois filhos e em ambas as alturas pude sempre usufruir dos direitos que a Lei me dá, enquanto mãe: licenças sem chatices, horários de amamentação respeitados, etc.
Dou muito de mim à empresa. Isto inclui trabalhar fora de horas, fins-de-semana, dar "jeitinhos" durante as licenças de maternidade, ir para o estrangeiro (e isso conta como trabalho 24/7), etc. Mas faço isto tudo porque sinto que sou recompensada. Não tenho um ordenado milionário (looooonge disso), mas sou tratada como gente e isso para mim é o mais importante.
Nunca me foi negada uma hora para ir a uma consulta, nunca me senti policiada e nunca precisei de nada disto para trabalhar.
Regressei ontem (dia 21) ao trabalho, depois de seis meses e meio em casa (um mês e meio de baixa mais cinco meses de licença de maternidade). Tive que pôr a minha filha mais velha na escola e a dita fecha às 19h30. O meu horário normal (excluindo o tempo que me falta a usufruir de licença de amamentação) é das 10h às 18h30, com uma hora de almoço. Ora, a trabalhar em Lisboa, a sair às 18h30, basta apanhar um bocadinho de trânsito (coisa que, com o IC19 pelo meio, acontece muito!) para não conseguir chegar à escola da miúda a tempo. Por isso, ontem, primeiro dia de trabalho, sugeri que se reformulasse o horário da empresa. Somos poucos e nenhum de nós precisa de entrar às 10h. Propus que se passasse a trabalhar das 9h30 às 18h. A minha proposta foi imediatamente aceite.
Sei que não precisava de o ter proposto: se precisasse de sair às 18h, saía sem que ninguém me perguntasse nada. Mas não me sentia bem com isso... parece que ia estar todos os dias a pedir um favorzinho e não vi necessidade de que assim fosse. Posto isto, propus. Sem medos, sem alaridos. E, talvez porque trabalho para pessoas que são, acima de tudo, muito humanas, não houve problema nenhum.
Se, a partir de Janeiro, altura em que termina a minha redução de horário, sentir que preciso de sair mais cedo uma vez ou outra, peço. E compenso com a hora de almoço ou assim (que eu não preciso de uma hora para almoçar, 15 minutos bastam, mais cinco para cafézinho, vá).
E sim, eu precisava mesmo deste ajuste, porque ao fim do dia cai-me tudo em cima e as horas não me bastam para tudo o que tenho para fazer. Isto de andar a brincar às super-mulheres é muito giro mas cansa... E eu não quero ser uma mãe cansada, nem uma mulher cansada, nem uma trabalhadora cansada. Quero sentir que o tempo me basta e que o aplico da melhor maneira! E quero ser sempre, para os meus filhos, a mãe que eles merecem (e não apenas a mãe que eles podem ter).
Marianne
PS : Este espaço é vosso às segundas-feiras, se tiverem uma experiência positiva ou inspiradora de flexibilização, partilhem com os leitores e aderentes do movimento.
É bom saber que é possível...
ResponderEliminarPatrícia