Dra. CATIA SANTOS | PSICOLOGA, AREA DE PSICOLOGIA CLINICA
Nas últimas semanas debruçámo-nos sobre a família no prisma dos “grandes”, reflectindo sobre tópicos ligados à flexibilização no trabalho e ao equilíbrio entre este e a família. Esperamos que tenham aproveitado as leituras para revolucionar um pouco a mente. Mas agora, hoje, interessam-nos os “pequenos”. Se por um lado, as decisões dos pais relativamente ao trabalho, e à família claro, alteram o seu modo de estar no mundo e de se relacionarem com os outros, por outro lado, as crianças também são transformadas por estas decisões.
Nas últimas semanas debruçámo-nos sobre a família no prisma dos “grandes”, reflectindo sobre tópicos ligados à flexibilização no trabalho e ao equilíbrio entre este e a família. Esperamos que tenham aproveitado as leituras para revolucionar um pouco a mente. Mas agora, hoje, interessam-nos os “pequenos”. Se por um lado, as decisões dos pais relativamente ao trabalho, e à família claro, alteram o seu modo de estar no mundo e de se relacionarem com os outros, por outro lado, as crianças também são transformadas por estas decisões.
A presença dos pais, como pessoas activas e contentoras, nos primeiros anos de vida dos filhos é muito importante, dado que a interacção é imprescindível para o desenvolvimento dos bebés. A partir dos padrões de interacção, o bebé vai desenvolvendo a sua intersubjectividade, fundamental para a criação de uma mente criativa e estimulada, capaz de permitir a aquisição das mais variadas aprendizagens sociais, escolares e, no futuro, profissionais. A interacção mães-bebés e pais-bebés têm alguns pontos em comum, mas na sua essência são muito diferentes. A mãe vocaliza mais, é mais didáctica e a interacção baseia-se na manipulação dos objectos na sua forma convencional, ao contrário dos pais cuja interacção se baseia essencialmente no contacto físico, sendo pautada por brincadeiras imprevisíveis que conferem um aspecto mais estimulante à interacção nesta díade. 1, 2 , 3 Percebemos, deste modo, a importância da existência de um envolvimento forte, e rico, de ambos os pais, na vida dos seus filhos.
Quando, no primeiro ano de vida dos filhos, as mães usufruem da licença de maternidade a qualidade de vida e saúde, tanto ao nível da mãe como do bebé, parecem estar mais evidentes, existindo um menor nível de depressão materna assim como maior percentagem de mães que amamentam, sendo este um aspecto importante para a imunização do bebé. 4 Sabe-se, igualmente, que neste primeiro ano de vida quando a mãe trabalha, especialmente em full-time, algumas crianças apresentam dificuldades ao nível do seu desenvolvimento. Aparentemente quando os pais (homens) compartilham a licença, envolvem-se de um modo mais próximo nos cuidados com os bebés, como por exemplo na muda de fraldas e na sua alimentação. 5 Ressaltamos que é importante que não nos esqueçamos que os efeitos negativos, no desenvolvimento dos bebés, resultantes do facto de ambos os pais trabalharem, dependem de vários factores como, por exemplo, o tipo/qualidade dos cuidados parentais, e a sensibilidade dos pais para as necessidades dos bebés.
Nos anos seguintes e principalmente até à entrada na primária, o envolvimento dos pais no trabalho – durante longas horas – implica que os seus filhos permaneçam a maior parte do tempo ao cuidado de terceiros, sejam eles avós, amas ou funcionários dos infantários. Este acontecimento leva a que algumas crianças apresentem problemas comportamentais. Está, igualmente, comprovado que pode levar ao aumento da obesidade. No entanto, ressalta-se que se a qualidade dos cuidados prestados por terceiros for elevada, estes efeitos negativos podem ser atenuados ou até extintos.
1 Frascarolo, F., Favez, N., & Fivaz-Depeursinge, E. (2003). Fathers’ and mothers’ performances in father-mother-baby games. European Journal of Psychology of Education, 18 (2), 101-111.
2 Paquette, D. (2004). Theorizing the father-child relationship: Mechanisms and developmental outcomes. Human Development, 47, 193-219.
3 Roggman, L. A. (2004). Do fathers just want to have fun? Commentary on theorizing the father-child relationship, Human Development, 47, 228-236.
5 Tanaka, S., & Waldfogel, J. (2007). Effects of parental leave and work hours on fathers’ involvement with their babies: Evidence from the millennium cohort study. Community, Work and Family, 10 (4), 409-426.
Isto tudo é de tão elementar bom senso que nem devia ser preciso dizê-lo. Ainda noutro dia estava um miúdo de sete anos e os avós num determinado programa de televisão, e a avó a dizer que desde bebé até hoje, eram os avós todos os dias que o iam buscar à escola, dar o lanche, o banho e o jantar, e o miúdo ainda passava praticamente todos os fins de semana com os avós. Sem querer tirar mérito a estes avós, nem menosprezar o carinho que dão ao neto, mas pergunto: afinal que tempo é que este miúdo passa com os pais???
ResponderEliminarMãe, realmente a cada dia que passa tornou-se uma actividade diária ouvir esse género de histórias através dos amigos, de conhecidos ou até estranhos. O que prova ser cada vez mais necessário desenvolver iniciativas como este blog. Parecem tratar-se de questões de senso comum, certamente, no entanto é importante recordá-las porque por vezes as pessoas ficam tão envolvidas na teia do trabalho e da sua vida que acabam por esquecer que existe um vaso onde um dia semearam todos estes aspectos essenciais de parentalidade, mas que esqueceram de regar para tornar possível contemplar o seu desenvolvimento.
ResponderEliminarBoa iniciativa!
ResponderEliminarAcreditem que estes aspectos básicos não são de senso comum para muitos pais!!
Nesses casos em que passam a ser avós a assumir estes cuidados, as crianças continuam dentro da esfera familiar logo, como é referido no artigo, diminui em muito alguns problemas comportamentais. Contudo, nem todos os avós de hoje tem esta disponibilidade, o que torna as instituições escolares a principal alternativa.
Acredito que muitos pais não encontrem alternativas para as suas vidas profissionais e com as dificuldades laborais que temos neste momento muitos pais não tem possibilidade de passar mais tempo com os seus filhos como gostariam.
De qualquer forma mais preocupante do que a quantidade parece-me ser a qualidade, ou seja, o que fazem os pais com os seus filhos quando estão com eles!? Como rentabilizam esse "pouco" tempo!? Pequenas acções podem ser cruciais para atenuar estes danos no desenvolvimento das crianças!
olá Dra Cátia Santos. os meus parabéns pelo ultimo artigo escrito. eu não tenho filhos mas tenho alguns amigos que têm e o que eu lhe queria dizer em forma de comentário construtivo e até porque a Dra é Psicóloga, era se poderia escrever os artigos numa linguagem digamos um pouco mais corrente, visto de esse lema "todos diferentes, todos iguais" e eu sei que o lema foi escrito para outros fins,era só para explicar que não somos nada todos iguais e é com alguma pena que tenho pessoas que querem consultar este blog mas e pelo que me dizem algumas vezes ficam um bocado fora de contexto!
ResponderEliminarEnfim não sei se poderá fazer algo por elas mas pelo menos fica aqui o apelo tá? obrigado e se realmente conseguir fazer algo para a próxima provavelmente estará a falar com elas e não comigo que digamos deverá ser bem mais interessante e importante para elas. obrigado mais uma vez.
Esta ideia do "tempo de qualidade", que eu compreendo,acaba por ser uma armadilha. Convencemo-nos de que está tudo bem, podemos continuar a chegar a casa às 8 da noite, a fazer o jantar à pressa e a estar meia-hora com os miúdos antes de os deitar. Sem dúvida que estar com eles a 100% durante essa meia-hora é melhor que nada. Mas não nos podemos conformar. Não podemos deixar de sonhar com o dia em que a vida dê uma volta e os nossos filhos possam usufruir, todos os dias, de tempo a sério com os pais. Nem podemos desistir de uma vida que nos permita dar todos os dias um contributo para que os nossos filhos se tornem pessoas com auto-estima, positivas e felizes, capazes, eles próprios, de contribuir para um país mais positivo no futuro. É por isso que lutar pela flexibilização do trabalho é tão importante. Significa não desistir da saúde e do equilibrio das crianças, das famílias, e consequentemente do país.
ResponderEliminarPatrícia
Achei muito curioso ler as diferenças entre a interacção da mãe e do pai com os filhos, porque aqui em casa é mesmo assim: Eu canto-lhes e falo com eles com uma voz ridícula (é mais forte do que eu) e o pai rebola com eles nos chão, passam a vida a correr de um lado para o outro e para os braços um do outro.
ResponderEliminarAna Neto
ResponderEliminarGostamos e pretendemos informar o máximo possível os pais e as outras pessoas também. É sempre bom retirar o caos que se instala nas suas vidas e trazê-las um pouco ao cantinho do pensamento, da exploração de possibilidades e oportunidades e, principalmente, dar uma nova força à vontade de ser mais e melhor para as próprias e para os filhos, quando os há. Os avós são importantes e bons cuidadores, sim, mas não é benéfico retirar dos filhos o direito mais elementar, ter o amor e carinho incondicional dos pais que acaba por ficar um pouco esquecido no quotidiano podendo não haver (ou não se criar) tempo ou disponibilidade para o fazer em pleno.
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Anónimo
Peço desculpa mas creio não ter percebido claramente a sua questão. Aquilo que pretende será uma linguagem mais clara, e simples, ou mais directa. É isto? Sugiro que envie um email para psicologiaparaflexibilizar@gmail.com desenvolvendo a questão. Terei todo o gosto em explorar consigo o seu comentário.
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Patrícia
Um bom pai é aquele que é capaz de, como refere, aproveitar ao máximo a ligação com os filhos no pouco tempo que está com eles, mas também é sensível para perceber as necessidades dos filhos e saber a quantidade e qualidade necessária para que se desenvolvam felizes e saudáveis, a todos os níveis. Se isso implicar um movimento contra as longas horas de trabalho e alguns sacrifícios, o bom pai esforça-se ao máximo por conseguir fazê-lo e a verdade é que na maioria das vezes é bem sucedido. Reforço aquilo que disse, é preciso lutar e lutar não é fácil mas também não é impossível. Todas as pequenas batalhas vencidas são grandes passos para um objectivo importante: ser um bom pai.
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Calita
Os estudos e as teorizações não são mais do que uma tentativa de mostrar exactamente isso, as diferenças que se verificam na interacção entre os dois elementos do casal com os filhos. Tem sido cada vez mais mostrado que é fundamental para uma criança ter os dois modelos, porque é importante ter os dois lados da balança para o saldo ser positivo. As mães são peritas a fazer as “vozes ridículas” e as crianças deliciam-se com isso, assim como ficam eufóricas quando vêem um pai entusiasmado a fazer “palhaçadas” e a puxá-los para uma aproximação mais forte, mais sensitiva, muitas vezes com as cócegas, que são uma fonte universal de riso.