Ana Teresa Mota | Consultora em Recursos Humanos
Depois do pequeno artigo sobre o trabalho independente as perguntas e questões que surgiram sobre os pagamentos e dinheiros foram em número suficiente para me ocorrer que fazia sentido voltar ao tema.
E eu que passo a vida a dizer que é preciso fazer contas, em especial neste capítulo, abordei de forma demasiado ligeira as contas. Ora vamos a elas.
A minha maior surpresa quando confrontada com perguntas do género “queria saber quanto é que o salário dá líquido”, é que as pessoas não fazem a menor ideia de como se calculam estas coisas e entregam às empresas todo o poder de decisão no caso dos recibos verdes chutando um número para o ar sem noção nenhuma de quanto levam para casa.
Poucos serão os técnicos de recrutamento, de recursos humanos ou mesmo os entrevistadores, que saibam fazer as contas. E quando sabem não é certo que tenham tempo para explicar direito.
Se considerarmos que o salário é, para a maioria das pessoas, um fator chave em termos de organização pessoal, merece que dediquemos uma manhã ao assunto. É uma chatice? Dá trabalho? A matemática nunca foi o seu forte? Peça ajuda. Mas peça. Não deixe de tentar perceber.
O salário negociado, ou os recibos verdes, são um pacote. Que inclui benefícios vários que podem ser seguros, carros, telemóveis, gasolina, ginásios, etc. Para além deste pacote ainda inclui subsídio de refeição no caso dos trabalhadores dependentes e pode incluir o mesmo valor em despesas de refeição para os trabalhadores a recibos verdes.
Há dois tipos de desconto: irs e segurança social. Ambos dependem do valor que se recebe por ano, do número de pessoas que moram juntas, de quantas pessoas descontam para a mesma declaração. E as percentagens dos descontos foram todas alteradas muito recentemente. A melhor maneira é ir mesmo aos sites das finanças e da segurança social e fazer simulações.
Porque surpresas assim, só pela positiva. E quando nos oferecem um salário simpático a recibos verdes escusamos de descobrir no fim do mês que afinal não chega. Mais vale fazer as contas antes de concorrer aos lugares e seguramente antes de negociar passagens de contrato a recibos verdes.
As contas não são para os outros. São nossas. Somos nós que vamos ao supermercado com o que sobra depois dos descontos. Temos que ser nós a saber quanto nos vai valer o trabalho que fazemos. E sim, para quem tem um emprego com contrato, trabalhar a recibos verdes num segundo emprego pode ser altamente vantajoso.
Fica a sugestão.... umas folhas novinhas e contas de merceeiro. Porque a nossa vida não pode ser decidida com base no “os outros é que sabem”.
O trabalho independente é uma solução excelente para quem pretende flexibilizar, é bem visto pelas empresas porque a pessoa se coloca na posição de “só cá estou enquanto faço falta”, sai mais barato para as empresas, mesmo que negoceiem mais salário para compensar os descontos. Mas é preciso saber fazer as contas e negociar com base em números concretos.
Ser trabalhador independente significa, em última análise, desistir dos serviços internos da empresa. Passar a ser contabilista de si próprio, advogado, técnico de marketing, comercial, técnico de recursos humanos. Não é “o mesmo” com uma cara diferente. É mesmo diferente. É assumir a responsabilidade pelas nossas carreiras e pelas nossas carteiras. É transformar o patrão num cliente.
Eu pergunto-me se não devemos ttanbém encarar as coisas deste ponto de vista: porque há-de um patrão concordar com reduções de horário, part-times, semanas de 4 dias (etc, etc) para os seus funcionários, se pode recorrer a um um prestador de serviços a recibo verde e isso dá-lhe menos chatices e sai mais barato? Nesta perspectiva, não serão os recibos verdes inimigos da flexibilidade?
ResponderEliminarPatrícia